O governo usa de “reformas”
para caminhar sobre trilhas que já conhecemos
Michel Temer, tal qual um mediano (para não dizer ruim)
mestre de obras, aqueles inegociáveis, carrancudos, que condicionam sua
prestação de serviço à presença de serventes ou ajudantes, mesmo quando se fazem
dispensáveis, desde que assumiu a Presidência da República alardeia que
mudanças precisam ser feitas para a recuperação econômica do País. Sem utilizar
dos serviços da antológica Granero, o
presidente Temer e seu Congresso Nacional mudaram o orçamento, impondo contingenciamento
de gastos à saúde, educação, ciências, programas sociais e até das Forças
Armadas, representada pelo “mito das redes”.
Neste pouco mais de um ano de (des)governo, houve alteração nas regras trabalhistas,
sob a alegação de que a seguridade social da CLT (Consolidação das Leis
Trabalhistas) seria a razão da elevada taxa de desemprego, e agora tentam
alterar a Previdência Social, quando a Dívida Pública ultrapassa 70% do PIB
brasileiro, e enquanto o Congresso corre
para aprovar uma reforma política com pontos obsoletos. Por que tantas mudanças
para não mudar?
Quando se contingenciou 44% do orçamento da saúde, simbolizados
no desmantelamento do SUS, especialmente àqueles hospitais administrados pelo
governo Federal, como o Hospital São
Paulo, na capital paulista, que recentemente encerrou parte do atendimento
à população por conta da redução no repasse de verbas, ou no fim do programa
social Farmácia Popular, em julho
passado, a equipe financeira capitaneada pelo ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, enquanto vendia a ideia de que a ação se justificava por conta da
crise financeira, no popular, “matava dois coelhos com uma cajadada só”. Trata-se
da velha (e coloca velha nisso) estratégica de sucatear serviços para que parta
do próprio usuário a vontade de se ajustar aos métodos, para aqueles do
discurso “privatiza tudo”, de qualidade incontestável da iniciativa privada. Lá
não há erros ou equívocos. E quando há, clamam por intervenção do Estado, que
corre a socorrer, assume, administra, sucateia para novamente repassar a iniciativa
privada, a “salvação”. Instrumentalizam os órgãos para este círculo vicioso que
lesa, somente, o povo.
O mesmo contingenciamento atingiu a pasta de educação do (des)governo
Temer. Foram 44% a menos no orçamento do ministério que optou por encerrar o
programa de intercâmbios, Ciência sem
Fronteiras, e o forçou negociar um empréstimo pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) para financiar a tal reforma do ensino médio que o
governo Federal também discutiu (entre eles) e aprovou para a implantação já a
partir do próximo ano. Focado no imediatismo, a tal reforma deseja preparar o
jovem brasileiro para ser mão-de-obra barata, se não houver questionamento e
senso crítico que, convenhamos, não é estimulado pelo “profissionalizante” e “técnico”
de muitos cursos.
Para o mundo contemporâneo, a tecnologia é uma realidade. Para
Temer, não. As políticas de contingenciamento levaram o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
órgão fiador de estudos e pesquisas, a ameaçar cortes em bolsas, já a partir de
setembro próximo, por falta de recursos financeiros. Vale lembrar que o CNPq é
subordinado ao ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
coordenada pelo ministro Gilberto Kassab, ex-prefeito de SP, envolvido em escândalos
de corrupção com o “CONTROLAR”,
antigo programa de vistoria veicular da Prefeitura de São Paulo, e citado na
lista da Odebrecht. Aliás, por onde
anda esta lista? Ninguém sabe, ninguém viu. A discussão agora é outra.
Em tramitação na Câmara dos deputados, a reforma política
focada na implantação do “distritão” e na criação de um fundo bilionário, no
montante, por enquanto, de 3,6 bilhões de reais, ganhou alguns pontos,
minimamente, paradoxais como a volta do financiamento privado e a idealização
do semipresidencialismo.
Para os parlamentares, as mudanças viabilizaria a manutenção
de parte considerável do atual Congresso Nacional. Além da reforma política, a
classe política acredita que a alteração das siglas, os nomes dos partidos,
também ajudará na constituição da sinfonia, distante de Ludwig Van, orquestrada com único intuito de perpetuá-los no cargo
e manter o Foro Privilegiado.
Do atual Congresso, 32 senadores e 39 deputados federais estão
sendo investigados no âmbito da operação Lava Jato, somente no caso envolvendo
a empreiteira Odebrecht. Um dos mencionados, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o
da “suruba”, foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República na operação “Zelotes”
que investiga irregularidades no Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais, o CARF. Segundo a denúncia, Jucá, que
também preside o partido do presidente da República, o PMDB, teria editado
Medidas Provisórias que favoreceram (e muito) empresas com débitos no CARF.
O Conselho é
responsável por fiscalizar, através de multas e juros, empresas em débitos com
a União. A “Zelotes” apontou inúmeros equívocos e envolvimentos de conselheiros
em esquemas de propinas, em troca de facilidades, no órgão. O esquema reduzia
dívidas, muitas milionárias, em “trocados”. Parte destas dívidas está relacionada
ao calote, já tradicionalíssimo, de grandes empresas no repasse da alíquota da
Previdência Social, a mesma que passará por “reforma”.
Privatiza a "luz"
O
anúncio da privatização da Eletrobrás,
agência estatal que controla a geração de energia, subordinada ao ministério de
Minas e Energia, que durante anos serve para alimentar o lobby político na
troca de apoio por cargos, especialmente quando relacionado ao PMDB, partido do
atual presidente da República, foi muito bem recebido pelo mercado financeiro,
que há alguns meses vem impondo, com êxito, seus interesses. As ações supervalorizaram e o governo pretende
repassar o comando da agência sob a justificativa de que a empresa está
praticamente falida, em especial, por conta das ultimas ações da ex-presidente
Dilma quando reduziu tarifas em meio a racionamento hídrico, entre 2012 e 2013.
Dos
últimos 6 ministros de Minas e Energia, todos foram escolhas do PMDB. Durante
os governos petistas, o ministério sempre foi uma moeda de troca por sustentação
no Congresso Nacional. Curiosamente, o
mesmo PMDB que hoje critica os desmandos na Eletrobras
é o mesmo que por boa parte deste século indicava o responsável pela agência. Assim
como muitos parlamentares da sigla tinham autonomia para “emplacar” nomes pelas
sucursais estaduais da Eletrobras.
Toda
vez que a tarifa de energia elétrica está sob a bandeira vermelha, é uma
amostra de como será caso a privatização se concretize. A bandeira “escarlate”
na fatura é sinal de que a energia elétrica está sendo comprada pelo Estado de
empresas que já comandam 48% das ações da Eletrobras.
Toda vez que a energia gerada pelo Estado é insuficiente para a plena
distribuição, ele assume o risco e compra energia dos empresários.
Hoje,
o preço da energia elétrica, parte é tabelado pelo Estado, parte é decidido
pelo setor privado. Com a privatização, o preço, assim como a administração,
ficará a cargo da iniciativa privada.
Percebem
como nada parece inédito e que tudo está interligado? São velhas práticas de um
velho modo de administrar. Que o mundo gira todo mundo sabe. Mas ninguém me
avisou que chegaríamos ao ponto de retroceder tanto. Enfim podemos falar que o
Brasil está longe de seu potencial. Melhor, qual o nosso potencial?
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