No mesmo país que
recém-nascido leva tiro e morre antes nascer, deputado tatua nome de presidente
denunciado, “agro é pop” ganha benesses e, para o pavor dos idealistas rasos, o
imposto sindical pode voltar
Na semana mais importante, dependendo do ponto de vista, da
política nacional, quando o Congresso Nacional, mais uma vez, terá que decidir
se um presidente deve ou não ser investigado e, consequentemente, afastado,
todos os dias foram tão importantes quanto a próxima quarta (02), dia decisivo
para discussão e votação da denúncia protocolada pela Procuradoria Geral da
República contra o presidente Temer por crime de corrupção passiva.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
No domingo (30), o Brasil debulhou-se em lágrimas de
tristeza e indignação com a morte do bravo Arthur, recém-nascido atingido por
um tiro ainda no útero da mãe, com apenas um mês de vida (se é que ele viveu) e
que, certamente cairá em esquecimento, mas foi a mais simbólica vítima dos
desmandos no estado do Rio de Janeiro, já que a violência descontrolada atingiu
o grau de matar um cidadão antes mesmo de ele nascer. Na segunda-feira (31), a
bizarrice protagonizada pelo deputado federal Wladimir Costa (SD-PA), em tatuar
o nome de Temer em seu ombro, clareou o fundo do poço em que chegou o sistema
político representativo. A luta e angústias do povo não se encaixam a tamanha
displicência e zombaria.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
A terça-feira (01), dia que antecede a votação, já iniciou
com uma Medida Provisória do governo federal para uma espécie de anistia as
dividas dos grandes empresários do agronegócio brasileiro que com a União. Parte
das dívidas se refere a calote no pagamento da Previdência Social, a mesma que
querem reformar por se “ineficiente”. A MP prevê a isenção de juros e
parcelamento em até 180 vezes. Muito superior as 18 ou 24 do crediário usado
pelo cidadão de bem que ainda tem o seu nome fora do SCPC e que não caiu na inadimplência,
ou seja, não faz parte do “bonde” dos 13 milhões e meio de desempregados.
Toda essa estratégia inconsequente em troca de apoio da bancada ruralista, mais de 210 parlamentares, contra o prosseguimento da denúncia que pede ao STF que investigue o encontro de Temer e Joesley, altas horas da noite no Jaburu.
Ainda na véspera da votação, parece que os R$ 4 bilhões distribuídos
em exaustivas Emendas nas últimas semanas não deram certo e o presidente Temer
sinalizou que, para se livrar da denúncia, trará a criação de um novo imposto
sindical na Media Provisória que regulamentará a reforma trabalhista. O
presidente deve enviar uma MP com algumas mudanças e entre elas estaria o
retorno, ou melhor, a continuidade da contribuição sindical seguindo os moldes
por ele definidos: os sindicatos poderão convocar assembleias pautando a
obrigatoriedade na contribuição, caso a pauta, a manutenção do imposto, seja
aprovada por, no mínimo, 20% da classe, a contribuição volta a ser obrigatória.
Para aqueles que idealizaram um país melhor com o fim do imposto sindical, sem
se ater aos acintes contra a seguridade nas relações de trabalho, está aí à
prova de que o “buraco” realmente é muito mais embaixo.
Nesta mesma semana que o presidente pode ser afastado, o
governo encerrou as atividades do programa Farmácia
Popular e ainda pretende, mesmo com Temer fora, o que é improvável, impor
uma reforma da previdência com muita obscuridade e distribuindo descontos aos
seus maiores devedores. Em entrevista publicada hoje no blog O Imparcial, o teólogo e percursor da
Teologia da Libertação, Leonardo Boff, quando perguntado sobre a falta de movimentação
popular lembrou uma passagem de Santo Agostinho: “Alimentar a esperança, mas atender suas duas belas irmãs: a indignação
e a coragem. A indignação para rejeitar as coisas ruins. A coragem para mudá-las.”
Para bom entendedor, alimentar não é da “boca para fora”
como o clímax atual, em que a indignação parece ser supérflua, e sim o
contrário, “da boca para dentro”.
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