Quando nada está bem, os parlamentares mudam para não mudar, o gargalo sobe e juiz, num país em que 13,5 milhões de pessoas estão desempregadas, recebe contracheque de R$ 500 mil


O Fundo Especial de Financiamento da Democracia e seus R$ 3,6 bi, além do fundo partidário anual de R$ 800 milhões, para o custeio das campanhas no próximo ano, é uma realidade cada vez mais possível. A Comissão Especial que analisou, sem audiências públicas, a Proposta de Emenda a Constituição (PEC 77-2003) apresentada pelo ex-ministro da Saúde, no governo Dilma, e deputado pelo estado do Piauí, Marcelo Castro (PMDB-PI), no ano de 2003, encerrou as discussões e enviou o texto para o plenário da Câmara. 

Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)


Sem muito custo, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), portanto oposição, viu seu relatório aprovado pelos parlamentares da Comissão. O texto cria o Fundo, acaba com o sistema eleitoral proporcional para cargos do legislativo (vereadores, deputados estaduais e federais) e implanta o “distritão”; permite que o doador, pessoa física, solicite a não divulgação de seu nome pelo TSE (voto oculto); reajusta o percentual permitido a doação referente à renda bruta do doador, sempre pessoa física por conta do bloqueio a doações de pessoas jurídicas, de 10% para 60%. 


Esta reforma política é a mais perfeita representação das recentes, para não dizer a tônica, ditas reformas do (des)governo Temer. Todas as tentativas de se mudar, não tinham, assim como as que ainda não foram aprovadas não tem, a pretensão de alterar para melhor, pensando no bem do País. Trataram de contingenciar o orçamento quando o mercado financeiro desmoralizava a administração, alteraram as regulações nas relações trabalhistas ouvindo apenas o setor empresarial e alegando, em alguns casos, que as seguridades eram a razão da falta de emprego, e querem exterminar a Previdência Social, numa forma de anistia as empresas que não repassam e continuarão sem repassar a contribuição à União.  São mudanças que em qualquer outro país, minimamente instruído politicamente, seriam questionadas. Mas como exigir isto de pessoas que não são instruídas a pensarem sobre política?


O contemporâneo, de muitas alterações e deturpações ideológicas, convoca a leitura e a observação crítica a respeito da nossa participação no sistema democrático. Esta convocação ganha grau de dificuldade quando os meios para tal, a escola, não recebem a atenção necessária, por vezes, parte do plano intencional de estimular o déficit educacional e, consequentemente, crítico da população ainda na base enquanto estudantes. Crianças e jovens, mal formados politicamente, resultam em adultos que, em muitos pleitos, quando deixam de comparecer ao colégio eleitoral, nem justificar o voto justificam. Não se importam com a obrigatoriedade e vivem a ilusão de a escolha dos mais votados e o voto facultativo formam um pilar sólido para solucionar o problema da representação, quando sabemos que isto só agravaria o nosso já confuso sistema de interesses.


Quanto à facultatividade do voto, só seria um ganho se houvesse preocupação em contrapartida educar, didaticamente, a população. Se o sistema tal qual ele é, já funciona como moeda de troca para interesses específicos, exemplificado pelas bancadas do “boi”, da “bíblia” e da “bala” no Congresso Nacional, imaginem só como seria com a participação reduzida do eleitorado que se negaria a votar por considerar “facultativo”. Haveria indignação, mas não legitimidade em cobrar ou fiscalizar o “representante do povo” que deixaria de ser do “povo” para dedicar-se a seu eleitorado específico, assim como já fazem há tempos, com a diferença de que, caso faculte o voto, teria o aporte legal para isso.


O voto majoritário, quando os mais votados são eleitos, é prejudicial pelo mesmo ponto do voto facultativo. Os interesses seriam novamente colocados à frente e, neste caso, estaria estritamente ligado aos recursos financeiros do candidato e do partido que teriam mais mecanismos para a confecção da campanha. Por isso, a criação de um fundo bilionário e a mudança do proporcional para o majoritário, como os pontos da reforma política apresentada na Câmara Federal.  
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Ao menos o texto central da reforma deveria ser votado nesta quarta (16), mas foi adiado para a próxima semana. Os deputados federais planejam votar o essencial e deixar os destaques como a criação do Fundo e o “distritão” para outras sessões. A reforma, por ser uma PEC, precisa passar por dois turnos de votação no plenário da Câmara e Senado. 


Sobe o “gargalo”


O Executivo pede celeridade ao processo, agora de autodefesa dos congressistas, que aplicam nas mudanças o desejo de reeleição no próximo ano, para tocar suas reformas “estruturais” e a aprovação da revisão na meta de déficit para este ano. A equipe econômica não conseguiu, mesmo com todos os contingenciamentos possíveis, equilibrar as contas públicas e aumentaram, em R$ 20 bi, de R$ 139 bi para R$ 159 bi de rombo no orçamento deste ano. Esta revisão, subindo o “gargalo” de rombo, mostra claramente que reduzir o orçamento público mantendo privilégios e anistiando velhos devedores da União, está longe de ser, primeiro, coerente, e segundo, a solução. 


A alteração no déficit fere o pobre de todas as formas. Além de ter que trabalhar mais (aqueles que ainda trabalham), a revisão alterou para baixo o valor do salário mínimo do próximo ano em R$ 10, fechando, por enquanto, em R$ 969. 


Já há parlamentares usando artimanhas para dificultar a tramitação da revisão do déficit no Congresso Nacional. O relator da LDO, Lei de Diretrizes Orçamentárias, na Câmara, deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), garantiu que a revisão passará por dificuldades no Congresso e chamou de “preguiçosa” e “autoritária” a equipe econômica do presidente Michel Temer. Tudo isso por conta de uma “rixa” entre o governo e parlamentares, após inúmeros vetos presidenciais na LDO de 2018 já enviada para sanção de Temer.  As velhas negociatas.


No país da “crise financeira”, o juiz Mirko Vincenzo Giannotte da microrregião de Sinop, no interior de Mato Grosso, recebeu em seu contracheque de julho, o valor de R$ 500 mil, sabendo ele, senhor das leis, que o teto constitucional é de R$ 33,7 mil. A hipocrisia da justiça, infelizmente, não se resume apenas aos casos de Rafael Braga e outros, mas em descumprir aquilo que eles cobram e julgam, aplicam condenações, de outrem. 


O chavão e clichê de que a mudança efetiva se inicia na escola, nunca foi mais verdadeira. Só não apoia quem porta do cabresto da “escola sem partido” ou não quer mesmo. 

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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