No mesmo período que Vargas caçava os comunas personificados no casal 20 do espectro revolucionário da extrema esquerda, Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, entre os anos de 1935 e 1936, o ultimo marcado pelo envio e entrega da senhora Prestes ao Fuhrer alemão, Bocaiúva, ao norte das Minas Gerais entregava ao mundo por intermédio de dona Maria da Conceição Figueiredo Souza, aquele que viria a desconstruir, mesmo que por pouco tempo, o modus operandi do sistema que envolve o mundo pós-feudo. O modus operandi que manipula as mazelas humanas como sendo castigo de um ser superior ou de uma força da natureza, quando o óbvio nos chama atenção para o fato de que nenhum outro tipo de vida, que não seja humana e mundana, exista. Herbert de Souza, o Betinho hemofílico, viveu para desmistificar a fome, miséria e a vida sob o argumento de que elas complementam o velho “ação e reação” dito pelos Homens. Os Homens são os responsáveis. 
 
Herbert de Souza, o Betinho, e o sorriso de quem mudaria pouco mais de uma década; Foto: EBC


Betinho, irmão do Henfil, o mesmo de O Bêbado e o Equilibrista de Elis Regina, militava pela Juventude Universitária de Belo Horizonte quando em 1962 formou-se sociólogo, pela Universidade de Minas Gerais, e já sob o viés do martelo e foice, o mesmo combatido por Getúlio enquanto ele nascia, comandou a Ação Popular no chamamento da população as causas sociais, na defesa do socialismo e, com a chegada dos militares ao poder, o combate ao totalitarismo. Encerrado o período de perambulação pelos asilos políticos, Betinho volta ao País em 1979 com a mesma provocação a ordem desigual e mortífera que envolvia crianças sem alimento e moradia, e 32 milhões de brasileiros com pratos vazios. Daí em diante, o magricelo Betinho, portador de hemofilia desde os 6 anos de idade, sem temer, enfrentou a todos com o seu Ação da Cidadania contra a fome, miséria e pela vida, que rendeu àquele período, entre ações de combate a fome e miséria paralelas aos movimentos das Diretas Já, um senso apurado de cidadania. A corrente promovida por Betinho ganhava o Brasil com suas parcerias musicais pela erradicação da fome.

O promotor da erradicação viu seus dois irmãos, o cartunista Henfil e o cantor Chico Mário, morrerem contaminados pelo vírus da Aids. Vírus que ele também portava sem negações. A sensibilidade peculiar com que trazia seus olhos fundos, fez destas derrotas a ampliação de sua Ação. O irmão do Henfil cobrou as mortes, não só de seus irmãos, mas de todos os hemofílicos, por inadimplência do Estado.      


Betinho liderou movimentos que visavam os menores, aqueles que dançam “na corda bamba de sombrinhas” cantada por Elis Regina na canção que ele definiu como sendo o “hino da Anistia”


No último dia 09 de agosto, portanto quatro dias antes deste domingo dos Pais (13), completaram 20 anos desde a morte do mais ilustre hemofílico do Brasil. O pai do combate à fome, com a força de quem lutou e ganhou contra o ego de um sistema, certamente não hesitaria em felicitar os pais, os homens, os brasileiros e brasileiras de modo geral. 


Em momentos como pelo qual passa o País, com falta de representatividade pungente, pessoas como Betinho merecem ser lembradas e homenageadas. 

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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