Sentidos apurados, vimos e ouvimos numa semana tudo o que, em qualquer outra parte do mundo, faria mudar


Sentir, para os filósofos, é viver. O ser existe porque sente, e vice-versa. É o velho uso da metáfora que traz a “via de mão dupla” como personificação da vida e da “ação e reação” da Terceira Lei de Newton ou da obra de Chico Xavier. Assim que implodiu os áudios das gravações feitas por Joesley Batista - empresário da mesma classe que para o neoliberal soluciona problemas -, elucidando as negociatas entre figuras públicas e a classe empresarial, os sentidos do brasileiro, especialmente a visão e audição, se confundiram ainda mais, e o resultado não poderia ter sido pior: uma condenação prematura de tudo e um desprendimento do que se conhece por política. O povo, desta vez, não sentiu. 
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Os áudios gravados por Joesley Batista no subsolo do Palácio do Jaburu, que levaram a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, voltaram à tona nesta semana com partes omitidas pelos delatores, naquele acordo que absolveu os irmãos batistas. Nas 4 horas de gravação entregues ao Ministério Público pela defesa de Joesley Batista, há a conversa dele com o ex-diretor da J&F, também investigado pela operação Lava Jato, Ricardo Saud, onde explicitam o sentimento de apropriação, por parte deles, sobre os principais representantes daquilo que consideramos instituições de Estado. Ele deixa muito claro onde nos levou toda a exacerbação de tomada de empréstimos, entre outros vínculos, intermediada por figuras dita públicas e o setor empresarial. Como ele mesmo autodenominou-se, em um dos trechos da gravação, era o “professor” na “escola” que políticos acreditavam ser o destaque. 
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

A classe política ouriçou-se com a possibilidade, já negada pelo Ministério Público e reforçada pelo STF, de anular as ações provenientes das gravações, incluindo a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer. Eles acreditam que houve um desgaste do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diante da opinião pública, por conta do acordo selado entre o Ministério Público e os delatores que, à época, se mostraram arrependidos e saíram, especialmente Joesley Batista, a dar entrevistas como sendo “justiceiro” e apenas uma peça corrompida pela politicagem ensinada e praticada, curiosamente, na escola em que ele se diz o “professor”. 


Todo este alvoroço porque, nas gravações, Joesley Batista e Ricardo Saud citam o ex-procurador da República Marcelo Miller e alguns ministros do STF, o Jurídico dos poderes teve, assim como o Legislativo e Executivo, sua reputação embriagada pelo Batista. Aliás, em depoimento, justificação – embriaguez – dada por Joesley às situações contidas na gravação.  


O Congresso trabalha sem se ater aos fatos e, mesmo com a turbulência, aprovou em 1º turno o texto principal de uma reforma política “padrão (des)governo de qualidade”. Com a aprovação, na terça (5), os deputados ressuscitam a cláusula de barreira – discutida e aprovada em 1996 - para delimitar os valores repassados ao fundo partidário a partir de um número mínimo de eleitos por cada partido, e o fim de coligações como as que conhecemos hoje - várias siglas se unindo por tempo de TV e Rádio -, que será substituída pela proposta que cria “federações” com o mesmo objetivo, a valorização do tempo de propaganda partidária em cadeia de Rádio e TV, com a diferença, por enquanto, de obrigar a permanência dos partidos nas “federações” por todo o mandato. Seria um antídoto para o fisiologismo? Acredito que não. Continuaríamos com chapas desconexas como aquelas formadas por partidos dito “comunistas” e partidos dito “cristãos”. 


Chapas que só contribuem para encarnações fisiológicas como Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração do governo Lula, ex-ministro de Secretaria de Governo de Temer e vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, preso esta semana após a Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões, em espécie, ligados a ele em um apartamento em Salvador, na Bahia. 


  Tinha tanto no “bucker”


Geddel Vieira Lima deixou o (des)governo Temer quando suas desavenças com o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, envolvendo a construção de um condomínio de luxo na orla de Salvador foram ao ar, pela imprensa, também através de gravações. À época, Marcelo Calero tinha gravado uma conversa em que Geddel exigia dele, facilitações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, vinculado ao ministério da Cultura, que tinha barrado a construção do condomínio La Vue, em Salvador, onde Geddel tinha comprado um apartamento.    
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Ele deixou o (des)governo, mas não abriu mão das suas expertises como interlocutor perpétuo das negociatas.  Como as investigações não andaram - e pouco foi feito a respeito-, Geddel Vieira Lima seguiu para Salvador onde continuou suas tratativas obscuras até ser pego, pela Polícia Federal, no início de julho, quando o Ministério Público mandou prende-lo preventivamente por estar agindo, usando-se de suas artimanhas políticas, para impedir uma delação premiada do ex-deputado federal Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro. 


De acordo com o Ministério Público, ele estava atrapalhando uma possível delação de peças estratégicas como Funaro e Cunha, para evitar constrangimentos como a descoberta do “bunker” com R$ 51 milhões em espécie, esta semana. 


Curiosamente, Geddel realizava todas as suas intervenções no mundo político de seu apartamento, em Salvador, como preso domiciliar, vale destacar, sem tornozeleira eletrônica. E só voltou para prisão em regime fechado por conta da descoberta feita pela PF. Caso contrário, estaria hoje sem ter sido mencionado em tags nas redes sociais, e com sua “bolada” a pagar os muitos “cafezinhos”.   


Na onda de “bunker”, imaginem ter um para espairecermos do mundo político brasileiro. Como não o temos, acredito, seria interessante regularmos nossos sentidos, após o tsunami de informações, para apurar e digerir todas estas tentativas de uma democracia sem povo. Não podemos, mais uma vez, deixar passar como se não expressassem nada e como se já tivessem tomado o espaço do comum em nossas linhas de pensamento. 


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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