No ano em que os índices de desigualdade alcançaram níveis sem precedentes, incluindo a necessidade em retomar campanha de combate à fome, Temer promete bis para 2018 

Em fevereiro, a ONU alertou. Em meados de setembro, a filial brasileira da ONG britânica OXFAM, a OXFAM Brasil, levantou números evidenciando que no Brasil a "distância" - o fosso social - é o "que nos une". Agora, já no derradeiro dezembro deste 2017, o IBGE, órgão governamental, aponta que a ONU é boa em prognósticos e a OXFAM estava certa. 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)
A ONU, através do Banco Mundial em fevereiro, disse que teríamos novos 3,6 milhões de brasileiros integrando o grupo de pobres e de pobreza extrema até o final deste ano. Infelizmente, acertou!

Em setembro, o Conselho Deliberativo da OXFAM Brasil divulgou um estudo, de 98 páginas, mostrando que a chegada desses 3,6 milhões de brasileiros à faixa de pobres é a ponta de um iceberg de desigualdades em que somente a "distância" é o que une as diferentes camadas da sociedade brasileira. 
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Agora, já em dezembro, o IBGE corrobora tudo o que o Banco Mundial imaginava para este 2017, e a OXFAM Brasil, já tinha detalhado em seu levantamento.

E Não estranhe se, por acaso, você estiver em meio aos "reclames do plim plim" daquela emissora de tevê que "fala com mais de 100 milhões de uns" e for surpreendido com os míticos pratos de alumínio batido chamando atenção para o "Natal Sem Fome", da ONG Ação Cidadania, fundada pelo Betinho, o irmão do Henfil, da canção imortalizada por Elis Regina.

A campanha tinha sido encerrada em 2007, quando o percentual de brasileiros entre pobres e de pobreza extrema começou a despencar, iniciando uma série que seguiria em queda até 2014. O ano eleitoral dava conta de 7,4% da população entre os pobres, e 2,8% entre os de pobreza extrema, aqueles que sobrevivem com 1,90 dólar - equivalente a quase R$ 5,00 - ao dia. Hoje, este índice, por conta das mudanças do Banco Mundial, que definiu réguas conforme a renda média de cada país, alcança 22%, quase um quarto da população brasileira vivendo, agora, com 5,50 dólares - pouco mais de R$ 18,00 ao dia - sendo 3,6 milhões de brasileiros incorporado a este grupo somente neste ano. Ou seja, 2017 termina com 3,6 milhões de novos "pobres". 
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A deterioração do regime democrático por partidos que não aceitaram o resultado das urnas em 2014, coincidentemente último ano de queda no número de brasileiros abaixo da linha da pobreza, e a chegada do (des)governo com sua imperativa agenda neoliberal, como era de se esperar, abriu ainda mais o conhecido abismo social, e acelerou o aumento dos índices de desigualdade no País. 

Botijão de gás a 100 "pilas" e donas de casa relatando em jornais que encontraram na queima de plástico a solução para aquecer o fogão - como a Folha de S. Paulo trouxe na edição de sexta (08) -, acredite, ainda é a face menos perversa de um (des)governo que pensa, única e exclusivamente, no tal mercado financeiro. É ele, o tal mercado, ao lado de grandes corporativistas do "agro é pop", o agronegócio, que ditam seus interesses em detrimento de mais políticas públicas inclusivas. 
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Assim que Temer instaurou o seu (des)governo, a Constituição recebeu a pior de suas emendas, a 95 com suas regras que impedem investimentos de qualquer natureza em nome de um "regime fiscal equilibrado"; programas educacionais como o de intercâmbio, o Ciências Sem Fronteiras, deixaram de existir; já os programas sociais, alguns foram extintos como o Farmácia Popular, outros como o Bolsa Família, que para o Banco Mundial é a solução para a redução da desigualdade, está sucateado e sofrendo cortes no orçamento, e pior, realizando cortes em massa como as pouco mais de 500 mil famílias que deixaram de ter acesso ao benefício, somente entre junho e julho; no campo de investimentos em pesquisas, o CNPq sofreu com cortes drásticos em seu orçamento, chegando a comprometer bolsas de estudos, e, agora, com auxílio das tais "operações de investigação", fragiliza o sistema de educação pública em nível superior, com denúncias infundadas de desvios nas instituições públicas e conduções coercitivas de reitores, quando não os fazem cometer suicídio.

Estes desmandos, ao lado de mudanças no regime trabalhista, com a aniquilação de direitos e a precarização da qualidade do trabalho, e a busca incessante pela aprovação de uma "contrarreforma" da previdência, anistiando dívidas bilionárias de grandes empresas e promovendo os planos de previdência privada oferecidos pelo sistema financeiro, atingiram - e atinge - os mais pobres, os menos afortunados de um país que, historicamente, observa sua elite fazer "pouco caso" de (des)governos corruptos, e enxergar na ascensão dos mais pobres a ameaça, uma ruptura à ordem "natural" de que é inaceitável que todos tenham acesso a tudo.
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O (des)governo, preocupado apenas em estancar um tipo de "sangria", o avanço - seletivo - de algumas operações de investigação contra a classe política, usa-se desse descalabro social e o, ainda elevado, número de desempregados - na casa de 13 milhões pessoas - para comercializar o patrimônio público como maneira de enxugar a Máquina Pública, ter austeridade e aplicar isso em políticas públicas - a velha falácia, ainda dos tempos de Thatcher, do neoliberalismo: sucateia e vende.

Temer, o presidente duas vezes denunciado e duas vezes absolvido pelo Congresso mais corrupto da Nova República, segue as recomendações à risca a cartilha do neoliberalismo. Só neste ano, o seu (des)governo reduziu o status da Petrobrás, retirou a força de investimentos do BNDES, liberou a mineração em regiões pobres do Pará, entregou o poder energético do País e a "Amazônia Azul" aos estrangeiros, além de ter anistiando dívidas de grandes ruralistas em troca de apoio para "se safar" das denúncias por corrupção passiva, obstrução à Justiça e por ter integrado organização criminosa, o "Quadrilhão do PMDB".

À revelia da maioria da população, todas essas ações agradam apenas a um grupo da sociedade, o mercado financeiro, que representa 0,2% da população. O mercado, que rege o (des)concerto de um (des)governo corrupto e impopular, é, por sua vez, admirador e presidente de "fans-clubes" dedicados ao neoliberalismo. Ele tece elogios e amores ao (des)governo Temer e, em troca, exige comemoração aos pífios resultados do PIB, que o dólar e a inflação estão estabilizados, ou que a "Selic" é a mais baixa de nossa história, quando os bancos não reduzem os seus juros para cessão de créditos, e a população pouco percebe o efeito prático desses baixos níveis. Enquanto isso, o tal mercado, em seus painéis de agitados gráficos, aumenta o custo com o gás de cozinha e combustíveis.

O (des)governo encerra o ano tornando o Brasil um lugar ainda mais desigual, e pior, com seu povo, lamentavelmente, pouco interessado em mudar esta realidade. Uma realidade, de pobreza, que, de acordo com a revista médica “The Lancet”, encurta a perspectiva de vida mais que obesidade, álcool e hipertensão.

Parece que a população deixou tudo para o pleito do próximo ano. Até lá, tudo já foi para o "saco".


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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