64ª Semana de “sem ‘prefeitar’” a “quietinho no Matarazzo”




Para quem tinha um perfil aparentemente bem definido como “gestor” e “não-político”, ou como “João Trabalhador”, Dória já não sabe mais quem é, compara administração pública com casamento e diz que seu vice será um bom prefeito quando ele, Dória, impediu, ainda nas prévias tucanas de 2015, a candidatura de Bruno Covas à Prefeitura e ano passado o "demitiu" da Secretaria de Prefeituras Regionais, após as pesquisas de avaliação apontarem a zeladoria, que é de responsabilidade da pasta de Prefeituras Regionais, como principal problema da cidade.   

Da mesma maneira que “ganhou de lavada” nas prévias do último domingo (18) (clique!) e caso o campo de esquerda ou de oposição à Dória disponha de um bom e forte candidato no pleito pela sucessão de Alckmin, o ex-prefeito em exercício – espero – deve “perder de lavada” em outubro.
 
Imagem: Reprodução / Charge de Veronezi para o jornal "Correio Braziliense"

O ex-prefeito em exercício João Dória já não mais “prefeita” – 1ª pessoa do verbo “prefeitar” criado pelo dito gestor – após a confirmação dos correligionários tucanos, que o definiram como o candidato do partido na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. Já falando em governo sem, ao menos, ter passado pelo crivo das urnas, ele tem dado entrevistas desastrosas. Apenas nesta semana, para a edição de segunda (19) do jornal O Estado de S. Paulo, ele partiu para o ataque e soltou alguns de seus característicos devaneios, dizendo que o candidato Márcio França (PSB-SP), hoje vice-governador do estado e também apoiado por Alckmin – talvez mais apoiado do que Dória -, estaria representando o campo da “extrema esquerda”, já que, em abril, com a saída do governador Geraldo Alckmin para a campanha presidencial, o vice-governador assumirá o governo do estado e com ele uma reordenação política que inclui partidos de esquerda como PCdoB e PDT no corpo de secretários.


A retórica de Dória, que deve reforçar daqui em diante o discurso de que Márcio França representa a esquerda, só não é mais descabida do que a existência política do próprio ex-prefeito em exercício.  Se levada a sério, a retórica de Dória não considera errada a afirmação de que Alckmin também representa e é um candidato de esquerda, já que Márcio França foi – e é - vice de Alckmin e esteve – e está - com o candidato do PSDB à Presidência da República. Será que Dória tem coragem de condenar seu padrinho político, chamando-o de "extrema esquerda"? Claro que não. Ele só quer desinformar, reforçar a polarização e usar o eleitorado como massa de manobra para ganhar pontos na corrida eleitoral.   
 
Imagem: Humor Político

Na mesma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Dória ainda mostrou como está rachado o PSDB – com o perdão da redundância -. O ex-prefeito em exercício chamou um de seus concorrentes nas prévias, o suplente de senador José Aníbal – que recebeu 901 votos entre os cerca de 15 mil possíveis – de “perdedor contumaz” e disse que ele “gosta de seguir a trajetória da derrota”.  O comentário foi feito antes mesmo de sair os resultados das prévias. Dória é do tipo que orquestra tudo, não sai para perder e acredita estar fazendo um grande jogo político, sendo um “não-político”.


À TV Bandeirantes, já na terça (20), o ex-prefeito em exercício usou novamente a separação de um matrimônio como comparação – inócua é bom que se diga – para a sua renúncia, atacou mais uma vez o vice-governador Márcio França (PSB-SP), numa demonstração clara da preocupação que ele tem com uma eventual força política do candidato do PSB, e disse que não é político, apenas “está na política” e segue sendo “administrador”.  Ele ainda disse que usará o “mote que for necessário”, ou seja, fará o que for necessário para não voltar à Prefeitura como prefeito.
 
Imagem: Tijolaço

O cinismo do ex-prefeito em exercício é verdadeiramente diferente e elevado. Desde o uso de “João Trabalhador” como bordão em campanha para um candidato que não representa a classe trabalhadora e que leva uma vida distinta da classe usada por ele para se eleger em 2016 - de luxo e bens inconquistáveis à base do trabalho -, passando por desmandos enquanto prefeito, cargo pelo qual sempre demonstrou resistência – nunca o quis -, ao discurso, agora, de que os três milhões de votos em outubro de 2016 pouco tem valor e que o eleitor paulista é quem decidirá em outubro.


Pelas agitações populares, não somente nas redes sociais, mas também nas ruas, o ex-prefeito em exercício não vence as eleições de outubro se houver um bom pleito com candidaturas interessantes. Os 24 anos de poder do PSDB na administração do estado entra – e muito – na conta da ausência de bons quadros políticos de outros partidos, especialmente do espectro progressista. Esta coluna continuará mostrando quem é João Dória, com seus desmandos e polêmicas, e cobra um bom pleito para que venha a mudança.


Na semana em que o ex-prefeito em exercício só falou nas eleições de outubro, o tempo fechou – literalmente – e a cidade mostrou mais uma vez não ter capacidade, com suas galerias pluviais defasadas e sujas, de comportar as chuvas. O forte temporal de terça (20) alagou ruas e avenidas, causou transbordamentos de rios, e fez três vítimas fatais, sendo uma criança de 1 ano e 8 meses, que residia em um barraco nas margens do córrego Água Branca, na Zona Oeste. O barraco de Sofia Gomes Soares, que completaria 1 ano e 9 meses na quarta (21), dia posterior ao de sua morte, desabou e o ela foi levada pelo córrego . Sem encosta, o córrego além de sujo não é canalizado. Outra vítima, o vigilante Gerson Xavier Santana, morreu após ser atingido por uma árvore na região de Alto de Pinheiros, também Zona Oeste. Em toda a cidade, das onze obras de prevenção às chuvas, prometidas pela Prefeitura de Dória, para o mês de fevereiro, apenas três foram concluídas e entregues.  


Enquanto isso, o asfalto, com orçamento de mais de 500 milhões de reais, que supera o destinado à área de educação e saúde, tem sido usado como vitrine para a campanha eleitoral do ex-prefeito em exercício. Dória está asfaltando o caminho para o Palácio dos Bandeirantes não com piche, mas com corpos de pessoas mortas por negligência de sua administração. E, pode parecer, mas, acredite, não é exagero do cronista. Quando o dito gestor decide focar investimentos em asfalto, por ser ótimo ativo político, de apelo em meio à opinião pública, em detrimento de obras de combate a enchentes, como ocorreu ano passado, quando a Prefeitura usou apenas 33% da verba – R$ 275 milhões de R$ 825 milhões previstos para drenagem e prevenção de alagamentos -, ele é responsável pelas vítimas.
Imagem: Humor Político


E mais, não para nas promessas de investimentos de combate a enchentes. Os desmandos de Dória alcançam todos os setores de serviços públicos da cidade. Vale lembrar que professores e outros servidores públicos estão em estado de greve desde o início do mês contra a contrarreforma da Previdência municipal, enviada pelo ex-prefeito em exercício para tramitação na Câmara Municipal. 


Escolas municipais estão paralisadas desde o início deste mês. Por mais uma semana, professores e servidores se mantiveram em frente ao Palácio Anchieta, sede da Câmara, e impediram o andamento da proposta de mudança – para pior – na Previdência, de autoria do ex-prefeito em exercício. Dória quer aumentar a alíquota – o desconto – para a previdência de 11% para 14% aos servidores que recebem mensalmente até o teto do INSS, fixado em 5.645,80 reais. Para servidores com vencimentos superiores a este valor, Dória quer criar um sistema previdenciário complementar, elevando a alíquota de 11% para 19% na folha salarial.


O projeto sofre resistência, inclusive, de vereadores da base do prefeito, que ainda não conseguiu reunir os 28 votos necessários, mínimo necessário para aprovar a contrarreforma da Previdência em dois turnos no plenário da Câmara. E, apesar de os vereadores alimentarem a esperança de votação da proposta, ainda que em 1º turno, na próxima terça (27), o “andar da carruagem” diz que a luta, encabeçada por professores municipais, se mantém.


A semana também foi de exoneração e escândalo envolvendo suposto repasse de propina. O ex-prefeito em exercício foi surpreendido com a divulgação de um áudio da, agora, ex-diretora do Departamento de Iluminação Pública, o ILUME, Denise Abreu, pela Rádio CBN. O áudio (vídeo abaixo) reproduz uma conversa entre Denise Abreu e uma secretária de gabinete, na qual a ex-diretora do ILUME dá a entender que a FM Rodrigues, empresa responsável pela iluminação pública da cidade, estaria pagando uma mesada – propina - a elas em troca de favores, principalmente em relação ao andamento da PPP da Iluminação (clique!), no valor de 7 bilhões de reais,  vencida por ela.

 Vídeo: Reprodução / Canal "Wagner Holsback", no Youtube

A conversa ocorreu em novembro do ano passado.  O FM Rodrigues realizava até o mês de fevereiro a manutenção da rede de iluminação pública através de um contrato emergencial. Já na 62ª Semana (clique!), o consórcio FM Rodrigues se sagrou vencedora da PPP, que se arrastava desde a administração Haddad. 


Denise Abreu, que foi pré-candidata à Prefeitura nas eleições de 2016 pelo Partido da Mulher Brasileira, desistindo da corrida após Dória prometer um cargo em sua “gestão”, diz no áudio que se preocupa com o FM Rodrigues e que é inimiga da WTorre, empresa que compunha o consórcio concorrente ao FM Rodrigues na PPP da Iluminação. Ela diz também que o valor – cerca de 3 mil reais - pago mensalmente pelo FM Rodrigues estaria com os dias contados, já que o contrato emergencial firmado com a Prefeitura estava no fim. Denise Abreu vai além de coloca na “roda” dois secretários do ex-prefeito em exercício.  Segundo a ex-diretora, Júlio Semeghini, secretário de governo, e Marcos Penido, secretário de serviços e obras, recebem “‘bola’[propina] da Eletropaulo”. Apesar de negarem às acusações, Júlio Semeghini já é nome antigo no hall de secretários envolvidos em irregularidades, e Marcos Penido, agora, está em meio a sua primeira polêmica. 


Outro caso de suspeita de corrupção envolve o comandante geral da Guarda Civil Metropolitana, Carlos Alexandre Braga. Carlos foi nomeado para o comando da GCM em fevereiro, pelo ex-prefeito em exercício João Dória. Ele está sendo acusado pelo Ministério Público por desvio de dinheiro público e falsificação e uso de documento público falso, quando presidia a Associação das Guardas Municipais do estado de São Paulo. O MP diz que o comandante geral teria desviado 222 mil reais de verbas federais, por meio de um convênio entre a associação e a Prefeitura de Paraguaçu Paulista, cidade localizada no interior do estado. Carlos Alexandre Braga deixou o cargo na sexta (23).


O ex-prefeito em exercício que iniciou a semana sendo “ovacionado” em um evento de regularização fundiária, em Heliópolis, na região do Sacomã, encerrou trancado no gabinete, numa série de três dias com agenda fechada com compromissos apenas na sede da Prefeitura, no Centro. Após os transtornos causados pelo temporal de terça – comentado no 8º parágrafo deste artigo – e os escândalos de corrupção, Dória evitou eventos públicos. 
 
Imagem: Blog "Zel Total"

Para se ter uma ideia de como a semana foi atípica, o ex-prefeito em exercício evitou e cancelou participação em ato de inauguração. A equipe de comunicação de Dória anunciou à imprensa que o ex-prefeito em exercício estaria em São Miguel Paulista, no extremo da Zona Leste, para a inauguração do primeiro Poupatempo municipal, o “Descomplica SP”. No local, havia servidores que, sabendo da ida do ex-prefeito, organizaram uma manifestação contra Dória e seu projeto de contrarreforma da Previdência municipal.  O ex-prefeito soube que seria hostilizado e preferiu ficar “quietinho” no Edifício Matarazzo, de onde gravou e publicou um vídeo nas redes sociais. 


O ex-prefeito em exercício aproveitou a semana ainda para anunciar novo projeto de paisagismo das marginais, inaugurou o 17º posto do Centro Temporário de Acolhimento, desta feita na região do Glicério, e entregou a revitalização da Praça 14 Bis, na região da Bela Vista, Zona Oeste. 


Acompanhamento semanal do mandato de João Dória à frente da Prefeitura de São Paulo. O Gestor, como ele bem frisa, tem muito trabalho no comando da maior cidade da América do Sul, e estamos atentos a suas ações. Portanto, todo sábado, trazemos aqui um compilado da semana de Dória, ou "Semana do Gestor".

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 Assista e compartilhe a reportagem especial sobre a Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Localizada no Largo do Paissandú, Centro da cidade, a Irmandade é a mais antiga confraria afrodescendente. Confere aí!  



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Claudio Porto

Jornalista independente.

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