Enquanto todos se deixam levar pela
discussão partidária das eleições de outubro, a execução brutal de uma
vereadora segue sem esclarecimentos, a principal figura política do País está
presa e o povo, ou parte considerável dele, seguramente, na miséria
Aliado aos péssimos índices de desigualdade há também o
elevado número de brasileiros desempregados. O último levantamento do IBGE deu conta de 13,1 milhões de
desempregados, ou 12,6% da população, em fevereiro, e 26,3 milhões de
subempregados, ou seja, com carga horária e salários reduzidos. Sem mencionar o
incontável número de trabalhadores informais que, pela ausência de seguridades
e instabilidade, recebe menos e, consequentemente, consome pouco.
Enquanto isso, a maioria da população e o (des)governo Temer
agem como Jeremias descreveu em seu livro na Bíblia. O primeiro, parte da sociedade brasileira, “tem olhos, mas não veem, tem ouvidos, mas
não ouvem”. O segundo, o (des)governo do presidente-nosferatu Temer, “não vê outra coisa e não pensa a não ser no
lucro, em derramar sangue [ou encarcerar pessoas] inocente e em praticar a opressão e a violência”, enquanto muda
ministros na derradeira reforma ministerial de seu (des)governo.
Enquanto todos se deixam levar pela discussão partidária das
eleições de outubro, a execução brutal de uma vereadora segue sem
esclarecimentos, a principal figura política do País está presa, a economia
apresenta números pífios com o povo, ou parte considerável dele, seguramente,
na miséria.
“Perto deles, o cego
da viola cantava para seu auditório esmolambado; e a toada dolorida chegava de
mistura com o hálito doentio do Campo: No céu entra quem merece / No mundo vale
quem tem / Eu como tenho vergonha / Não peço nada a ninguém / Que me parece
quem pede / Se cativo de quem tem”, assim escreveu a centenária
fortalezense Rachel de Queiroz em “O
Quinze”.
A representação literária do movimento retirante de nordestinos
para grandes centros urbanos no início do século passado é uma verdadeira
obra-prima não apenas pela bela colcha de palavras costurada pela autora, mas
por transcender as personagens Chico
Bento, Ceição, Mãe Nácia, Cordulina, Vicente, Dona Maroca e servir como introdução para um artigo que
busca comentar os números de desigualdade, divulgados na última semana, do país
que, em apenas um mês, assistiu sua principal figura política ser presa e uma
vereadora - de ideais libertários - executada. Ao menos os dois deixaram seus corpos
- e almas, para quem acredita - e alcançaram o grau de ideias. Marielle Franco
está morta, mas suas ideias não. Luiz Inácio Lula da Silva – retirante
nordestino – está preso, mas suas ideias não. São ideias, simples e complexas
assim.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
São ideias que mudaram, no caso de Lula, e mudariam ainda
mais, no de Marielle, os caminhos do Brasil. Mesmo que se contestem as
políticas do ex-presidente, é mau-caratismo omitir que os caminhos do País
foram alterados com avanços e maior preocupação social com ele à frente do
Governo Federal. O mesmo vale às iniciativas de Marielle Franco. Quinta
vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro, a jovem de bases fincadas no
conjunto de favelas da Maré, também na cidade do Rio de Janeiro, foi – e permanece
sendo através de seus militantes – ponto de convergência no combate às
diferentes formas de preconceitos.
Completou-se pouco mais de uma semana da teatral prisão
do ex-presidente Lula (clique!), e a figura política mais popular do País,
imbatível nas urnas, mantém a ponta nas pesquisas de intenção de voto mesmo
após o encarceramento. Completou-se um mês da execução
brutal de Marielle Franco e Anderson Gomes (clique!), e pouco se tem, em
matéria investigativa, acerca dos assassinos e suas motivações. Nem mesmo os
milicos aliados do presidente-nosferatu Michel Temer na intervenção eleitoreira
conseguiram avançar e seguem na missão de manter o apartheid da dicotomia
“asfalto” e “morro”.
Os números trazidos pela empresa LCA Consultores, que
divulgou um levantamento sobre a desigualdade no Brasil baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua – a PNAD-C -, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE –, na semana
passada, mostram que o apartheid não é um mal apenas dos cariocas e ganha forma
de abismo social como realidade brasileira, presente em todas as regiões do
País. A realidade, quase sempre violenta e abrupta, não permite hesitação. Ano
passado alertamos que o liberalismo entreguista, de privatizações e retirada de
seguridades a torto e a direito, não resolveria – como também nunca resolveu –
o reais problemas do País, principalmente aqueles relacionados ao bem-estar
social.
Para quem temia o pior, parece que ele chegou. De acordo com
o levantamento da LCA, o número de
brasileiros em situação de pobreza extrema, com renda mensal de apenas 136
reais, subiu 11,2% em 2017, incorporando 14,8 milhões de pessoas ou 7,2% da
população brasileira. O grupo formado por 1% da população mais rica do país
ganhou 36,1 vezes mais do que a metade mais dos pobres, com rendimento médio
mensal de 27.213 reais. O grupo dos 5% mais pobres teve rendimento mensal na
média de 40 reais em 2017, queda de 18% quando comparado a 2016. Já entre o 1%
mais rico da população, a renda praticamente se manteve e, em média, ficou em
15.504 reais mensais no ano passado, queda de 2,3% em relação ao ano anterior.
Entre as razões para a piora dos índices, acredite, estão a
Contrarreforma Trabalhista, e seu incentivo ao trabalho informal, e os seguidos
cortes tanto de investimentos pela Emenda Constitucional 95, de congelamento
dos gastos públicos, como também de beneficiários de programas sociais de
transferência de renda, como as 326 mil famílias que foram retiradas do Bolsa Família em 2017.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
De uma vez só, Temer nomeou 11 novos ministros (tabela
abaixo). A maioria abandonou o lado marinheiro e o barco temerário para se
arriscar nas ondas eleitorais das próximas eleições. Todos estarão pleiteando a
reeleição ou postulando outros cargos em outubro.
Ministros
empossados na derradeira reforma ministerial de Temer
MINISTÉRIO
|
SAI
|
ENTRA
|
Educação
|
Mendonça Filho
|
Rossieli Soares
|
Desenvolvimento Social
|
Osmar Terra
|
Alberto Beltrame
|
Fazenda
|
Henrique Meirelles
|
Eduardo Guardia
|
Planejamento
|
Dyogo Oliveira
|
Esteves Colnago
|
Minas e Energia
|
Fernando Coelho Filho
|
Moreira Franco
|
Esporte
|
Leonardo Picciani
|
Leandro Cruz Fróes da Silva
|
Turismo
|
Marx Beltrão
|
Vinicius Lummertz
|
Integração Nacional
|
Helder Barbalho
|
Antônio de Pádua de Deus
|
Indústria, Comércio Exterior e
Serviços
|
----------------------------
|
Marcos Jorge (atual interino)
|
Direitos Humanos
|
----------------------------
|
Gustavo Rocha (atual interino)
|
Trabalho
|
----------------------------
|
Helton Yomura (atual interino)
|
Saúde
|
Ricardo Barros
|
Gilberto Occhi
|
Transportes
|
Maurício Quintella
|
Valter Casimiro
|
Fonte:Portal G1;
Temer e parlamentares só pensam nas eleições – vide o pouco
trabalho, para não dizer nenhum trabalho, das comissões no Congresso. O Poder
Judiciário, sob o discurso de combate à corrupção, também só pensa em outubro e
em como estabelecer seu projeto, com candidato e ideologia já definidos.
Imagem: Jornal Folha S. Paulo |
Feliz e lisonjeado, escrevo que citar Rachel, do 1º
parágrafo, em um texto é sempre muito bom. Triste e lamentando muito, escrevo
que, mesmo com um intervalo de um século, falo do mesmo tema de Rachel: a
desigualdade.
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